O CRC é um espaço de diálogo entre cristãos de diferentes sensibilidades, e entre cristãos e não cristãos.

30 de dezembro de 2015

40º aniversário do CRC, Encontro de Sócios e Amigos - Intervenção de João Almeida

Imaginar o futuro do Centro de Reflexão Cristã

Nesta intervenção vou procurar dar o meu contributo para responder à questão «como é que se pode construir o futuro do Centro de Reflexão Cristã?»
É minha convicção de que o CRC só poderá ter um futuro se, respeitando a tradição que foi criando ao longo de quarenta anos e o seu património, conseguir identificar os desafios do presente e mostrar capacidade para produzir uma reflexão pertinente para os sócios, os cristãos e os não-cristãos, de várias gerações, que partilham inquietações e vontades de construir um mundo mais humano.
Pelo que me tenho apercebido, o CRC nasceu num período revolucionário, para responder à vontade de muitos cristãos de constituir um espaço livre de reflexão e de formação cristã que não encontravam nas organizações católicas existentes. Ao mesmo tempo procurava-se salvaguardar a via cristã num tempo de atracção por ideologias e militâncias políticas que desempenhavam o papel de religiões seculares. Vivemos um outro tempo, de crise profunda, sobre o qual é difícil formular um juízo, mesmo provisório. De um ponto de vista tecnológico é um tempo de mutações; de um ponto de vista social e político há processos contraditórios que ora apontam num sentido de amadurecimento das instituições e das consciências, ora num sentido de perda de direitos até há pouco tempo considerados adquiridos, de manifestações de xenofobia e de violência. As ideologias, pelo menos as que estavam na moda no ano do nascimento do CRC, perderam a sua pretensão totalizante. A ideologia dominante que já foi caracterizada como a ideologia do TINA «não há alternativa», não oferece qualquer sentido, nem sequer consolo, à vida das pessoas. A via cristã tem de ser agora percorrida num ambiente de indiferença perante a coisa pública e a injustiça, de fragmentação social, de atomização de crenças, um ambiente que foi propício ou incapaz de conter o aparecimento de um monstro que o pretende destruir, o monstro do fundamentalismo e do terrorismo religioso.
O CRC ao longo da sua vida foi capaz de colocar e de incentivar a reflexão sobre questões do sentido da vida à luz da matriz cristã, buscando respostas para interrogações acerca do que é a salvação, o perdão, ou qual é o rosto de Deus. São interrogações que hoje em dia parecem remetidas para a vida privada de uma parte significativa da população e que poucas vezes são formuladas em público ou inspiram uma intervenção organizada na sociedade portuguesa e na Igreja Católica. No entanto, muitas das questões que se colocam acerca do sentido radical da existência são indissociáveis de fenómenos sociais, políticos e religiosos que emergem no espaço público e constituem desafios decisivos para a crise civilizacional que atravessamos. O futuro do CRC na sociedade e na Igreja Católica em Portugal passa pela manifestação da sua capacidade em pensar estes desafios, de responder a inquietações que são pessoais e têm projeção social. 
Vou abordar três desafios que me parecem particularmente pertinentes.
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